História do Rock – nec plus ultra (parte 5)
Depois dos anos setenta e até os dias de hoje, a utilização de recursos eletrônicos, que já vinha acontecendo há algum tempo de maneira errática, chega ao Rock de maneira decisiva. Talvez, essa seja a característica mais marcante de boa parte do que será feito daqui por diante.
Vale lembrar ainda que embora algumas bandas que se firmaram nos anos setenta ainda continuem atuando e que muitas das vertentes do Rock tradicional – se pudermos chamar assim – continuem em voga, como o Hard Rock, o Heavy Metal, o Punk, e ainda outras que seguiam fiéis na tradição do Rhythm and Blues, houve uma boa dose de mudança dos referenciais artísticos, nomes como os de Lou Reed, Iggy Pop e David Bowie – que por natureza procuraram um tipo de som relativamente alternativo desde os anos sessenta e perpassando toda a década de setenta, se tornarão muito importantes por conta de seu experimentalismo e pela abordagem menos tradicional de temáticas típicas do estilo musical.
A partir dos anos oitenta há uma certa dose de dificuldade em estabelecer fronteiras musicais rígidas entre o que seria o Rock e a música Pop, não obstante haja nichos culturais específicos, para a grande maioria das pessoas a diferenciação é praticamente inexistente.
Inúmeros fatores são a causa disso, desde o fortalecimento cada vez maior dos conglomerados empresariais que tratam a música como um produto de consumo até a incorporação de elementos que não eram meramente musicais à própria música.
Tanto pelo fato de estarmos na era dos grandes espetáculos (os famosos shows de arena) que exigem grandes estruturas e grande investimento até a necessidade cada vez maior de utilizar outros meios para a propagação do trabalho dos artistas. Nesse sentido, a criação da MTV foi, certamente, o divisor de águas mais significativo.
Inúmeros foram os artistas que se utilizaram da linguagem visual do vídeo clip para divulgar seu trabalho musical – o que não era propriamente uma novidade (podemos citar aqui Beatles, Stones, The Who e, claro, Queen como bons exemplos), mas, se tornou uma necessidade, e inúmeras as pessoas que passaram a consumir o produto visual de um artista antes mesmo de conhecer especificamente seu trabalho musical. Alguns vídeo clips se tornaram tão clássicos quanto os próprios álbuns a que se referiam e serviram tanto para popularizar o Rock quanto para aumentar o número de seus detratores.
Praticamente, desde então, mais de uma geração foi educada musicalmente – e esteticamente – pela MTV, ao menos até que a competição de outros meios – como o Youtube e afins – levasse ao seu arrefecimento.
Aliás, hoje em dia, o acesso aos meios de produção e execução de música está ao alcance de praticamente qualquer um que tenha um computador (ou até mesmo um telefone), permitindo que seu trabalho seja divulgado e compartilhado por milhares de pessoas. Não é preciso dizer que essa é uma faca de dois gumes.
Se por um lado a ideia de democratização do poder de expressão é excelente, por outro, muitas vezes a ausência de senso crítico e o fato de julgarmos a música com argumentos que não são exclusivamente musicais pode levar à elevação ao status de “arte” daquilo que não passa de “artifício”. Contudo, talvez seja melhor pecar pelo excesso de liberdade do que pela ausência dela e, no fim das contas, sempre é possível escolher o que se quer ouvir.
Olhando em perspectiva, nossa época representa um grande caldeirão cultural – ironicamente apontando para as condições de nascimento do Rock, no fim do século XIX e início do XX – o que, por conseguinte, dá um novo caráter à maneira de ouvir e ser rock. Se por um lado há sim uma segmentação de estilos, por outro aconteceu também uma ampliação de diálogos musicais com uma tradição que remonta há décadas.
Os elementos que fizeram bandas como U2, The Smiths, The Cure, Joy Division, Bauhaus e tantas outras terem sucesso nos anos 80 ou gerou o Movimento Grunge, já nos anos 90, estavam presentes no DNA do Rock em seu berço, quando era ninado pela melodia de diversas vozes conjugadas num coro comum que foi entoado de boca em boca até chegar a outros ouvidos e frutificar aquilo que ele tem de melhor: a incrível capacidade de gerar criatividade, inspiração e um jeito único de enxergar a vida.
Dessa maneira, por mais discrepante que possa parecer, apesar de todas as diferenças de estilo, concepções e objetivos, o Rock permanece o mesmo e cada uma de suas inúmeras vertentes guarda em si o espírito essencial que sempre será capaz de incentivar a inovação, numa perene dialética de cultura e contracultura.
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Enfim, chegamos ao fim. Se você gosta de História, gosta de crítica e gosta de pensar, conheça o Curso de História da Uniandrade. Aqui você vai se sentir em casa.