Seguem os simpósios propostos pelos professores do Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária:
A luta por identidade própria, a necessidade de conservar a memória das origens e a resistência à opressão constituem a temática tripartite da literatura negra, quer na diáspora para as Américas quer no próprio continente africano. Os milhões de africanos transportados como força de trabalho para o Novo Mundo formam, segundo Paul Gilroy (2001) uma comunidade única a que dá o nome de Atlântico negro. Em que pesem as diferenças linguísticas, históricas e socioeconômicas “as culturas dissidentes do Atlântico negro têm desenvolvido e modificado este mundo fragmentado, contribuindo amplamente para a saúde de nosso planeta e para suas aspirações democráticas” (2001, p. 16). O foco deste simpósio está no fenômeno mais impactante da expansão ultramarina, a escravização do homem negro, cujas consequências a civilização ocidental vive até hoje, e deixou feridas abertas nas relações humanas nos países africanos de onde se originou a diáspora negra. No Brasil, Gilberto Freyre, em Casa-grande e senzala fez da miscigenação, praticada em larga escala nos tempos coloniais e origem da flexibilidade racial do brasileiro de origem lusitana, o centro de sua tese: a plasticidade característica do português “adoçou”, “suavizou”, as relações raciais entre nós, dando origem à “democracia racial brasileira”.
A tese é questionada pela crítica posterior – Antonio Candido, Abdias do Nascimento, Otavio Ianni, Omar Ribeiro Thomaz e outros. Heloisa Toller Gomes (1994) cita Stanley Elkins e Marvin Harris, que propõem uma alternativa materialista a qual insiste no exame das condições econômicas determinantes das relações sociais escravistas. É na literatura de autoria negra produzida nos modelos escravistas anglo-saxão, ibérico ou francês que vamos encontrar questionamentos, protestos e revolta contra as consequências da escravidão. Evidencia-se no discurso literário nacional, segundo Domício Proença Filho, o tratamento marginalizador do negro que ocupa dois posicionamentos: a condição negra como objeto, numa visão distanciada, e o negro como sujeito, numa atitude compromissada (2010). Este simpósio acolhe, portanto, trabalhos sobre a literatura negra produzida no espaço físico de dois continentes e nos séculos que medeiam de 1444, quando se registra o primeiro leilão de africanos escravizados em Portugal, aos nossos dias em que persiste a escravidão do preconceito e do racismo. Serão aceitos trabalhos sobre narrativa ficcional, poesia e crítica literária.
Se a modernidade, como experiência de aceleração do tempo e regime de historicidade voltado para o presente, remonta ao século XVI, com a expansão ultramarina e o começo do colonialismo europeu, é somente no século XIX, no auge do capitalismo, que ela, no campo das artes, dá os seus primeiros frutos maduros. Se em 1863 tivemos o Salón des refusés e o quadro Le dejeuner sul l’erbe, de Manet, um pouco antes, em 1857, viera à lume Madame Bovary e As flores do mal, o primeiro romance e o primeiro livro de poesia modernos. No entanto, desde aí, a adesão ao moderno em Flaubert e Baudelaire já vinha eivada de um mal-estar: era-se moderno e antimoderno, burguês e antiburguês ao mesmo tempo. A modernidade e o modernismo ostentariam doravante esse sinal de contradição: tal qual um farol obscuro, como disse Baudelaire, que lança suas trevas sobre todos os objetos do conhecimento.
O trajeto contínuo dos textos de Shakespeare por diferentes gêneros, mídias e culturas afeta seu status de prestígio. Com base em teorias sobre a intertextualidade, intermidialidade e interculturalidade, este simpósio acolherá comunicações que exploram processos de transposição, combinação ou cruzamentos de fronteiras envolvendo mídias diversas, como o teatro, o cinema, a TV, as artes plásticas, a música, os quadrinhos, as mídias digitais e outras. Como as mídias possuem configurações e materialidades específicas, cada nova encarnação das peças de Shakespeare, gerada por atos de interpretação, mediação e representação, manifesta novas energias comunicativas e capacidades expressivas. Buscamos artigos que levantem questões práticas e teóricas relacionadas às mudanças de sentido engendradas no trânsito do legado de Shakespeare pelo circuito midiático.
A proposta desse simpósio é discutir diferentes aspectos da literatura portuguesa e seus desdobramentos, tendo por foco autores do século XX. Como sugere Roger Griffin, em Modernism and Fascism (2007), o termo modernismo é usado para se referir a uma variedade de reações à decadência cultural resultante das radicais transformações das instituições tradicionais, das estruturas sociais e sistemas de crenças impactados pela modernização. Como consequência, surge a tendência de (re)imaginar o futuro como um “lugar” aberto para a realização de utopias. Dentro desse cenário, Portugal vivia diversas transformações políticas (conturbadas e sangrentas) que ganharam forma também em movimentos literários, como a Renascença Portuguesa, cujo objetivo era propor um novo futuro para o país. A partir disso, revistas literárias passam a ter maior impacto e, em torno delas, reúnem-se autores importantes organizando as conhecidas “gerações”, tais como a geração de Orpheu e a geração de Presença. Aos poucos, Portugal imprime sua forma aos diversos “ismos” da alta modernidade. Considerando esses aspectos, o presente simpósio se abre a propostas que apresentem diferentes facetas do modernismo português e seus desdobramentos ao longo do século XX, bem como estudos comparados entre a literatura portuguesa desse período e outras literaturas.
Retrato da sociedade, a Literatura nos apresenta com diversos olhares a respeito de como o mundo se estrura e se estratifica. Aspecto essencial dessa estruturação são os papéis e representações do feminino (ou femininos, visto que são múltiplas as suas formas). Com foco na obra de Lygia Fagundes Teles, é possível observarmos que o feminino se faz presente nos enredos e nos chama a atenção para debater o que tais personagens trazem de seus contextos socioculturais e como as observamos de nossos pontos de vista. Este simpósio propõe discutir como a Literatura apresenta tal gênero por meio de diferentes arcabouços teóricos, das teorias sobre o feminino às teorias feministas e que discutem as questões de gênero, já que é essencial considerar perspectivas históricas, sociais, religiosas, culturais e raciais.
Hegel via a Bildung como uma condição imanente de autoconscientização, mas era pessimista em relação ao Bildungsroman: o final da formação do personagem seria a adequação aos padrões da burguesia, conformar-se com o fracasso de ideais de emancipação. O fortalecimento da burguesia levou o Bildungsroman, primeiramente, a uma perda de fôlego, no final do século XIX, para uma retomada, no século XX, como subgênero que privilegia a formação daquelas identidades que estavam ausentes das suas formas originais. Em princípio, deu-se atenção ao que constituiria a Bildung feminina. Posteriormente, a atenção recairia sobre a formação de identidades de classe e de raça. Com o olhar para identidades pós-coloniais, o local de origem assoma. A Bildung se estende da consciência de si do indivíduo para a dimensão coletiva. O modelo canônico que Dilthey estabelecera para o subgênero passa a conter os elementos a partir dos quais o Bildungsroman que trata de quem rompe com padrões configura as suas diferenças. Ao contrário da adequação às imposições do contexto, a formação evidencia a autoconscientização da diferença e o subgênero intensifica a ruptura com seus modelos. A Bildung também é objeto do conto. Aceitam-se propostas de trabalho que focalizem essa dimensão da narrativa contemporânea.
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