DATA: 03 a 06 de outubro de 2022

A luta por identidade própria, a necessidade de conservar a memória das origens e a resistência à opressão constituem a temática tripartite da literatura negra, quer na diáspora para as Américas quer no próprio continente africano. Os milhões de africanos transportados como força de trabalho para o Novo Mundo formam, segundo Paul Gilroy (2001) uma comunidade única a que dá o nome de Atlântico negro. Em que pesem as diferenças linguísticas, históricas e socioeconômicas “as culturas dissidentes do Atlântico negro têm desenvolvido e modificado este mundo fragmentado, contribuindo amplamente para a saúde de nosso planeta e para suas aspirações democráticas” (2001, p. 16). O foco deste simpósio está no fenômeno mais impactante da expansão ultramarina, a escravização do homem negro, cujas consequências a civilização ocidental vive até hoje, e deixou feridas abertas nas relações humanas nos países africanos de onde se originou a diáspora negra. No Brasil, Gilberto Freyre, em Casa-grande e senzala fez da miscigenação, praticada em larga escala nos tempos coloniais e origem da flexibilidade racial do brasileiro de origem lusitana, o centro de sua tese: a plasticidade característica do português “adoçou”, “suavizou”, as relações raciais entre nós, dando origem à “democracia racial brasileira”.

A tese é questionada pela crítica posterior – Antonio Candido, Abdias do Nascimento, Otavio Ianni, Omar Ribeiro Thomaz e outros. Heloisa Toller Gomes (1994) cita Stanley Elkins e Marvin Harris, que propõem uma alternativa materialista a qual insiste no exame das condições econômicas determinantes das relações sociais escravistas. É na literatura de autoria negra produzida nos modelos escravistas anglo-saxão, ibérico ou francês que vamos encontrar questionamentos, protestos e revolta contra as consequências da escravidão. Evidencia-se no discurso literário nacional, segundo Domício Proença Filho, o tratamento marginalizador do negro que ocupa dois posicionamentos: a condição negra como objeto, numa visão distanciada, e o negro como sujeito, numa atitude compromissada (2010). Este simpósio acolhe, portanto, trabalhos sobre a literatura negra produzida no espaço físico de dois continentes e nos séculos que medeiam de 1444, quando se registra o primeiro leilão de africanos escravizados em Portugal, aos nossos dias em que persiste a escravidão do preconceito e do racismo. Serão aceitos trabalhos sobre narrativa ficcional, poesia e crítica literária.

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